A palavra foi a mais usada na convocação final para a Copa do Mundo, dia 11 de Maio, no Rio de Janeiro:
Coerência.
Pelo Dicionário Aurélio, “Ligação, conexão, de um conjunto de idéias ou de fatos, formando um todo lógico”.
Com este substantivo na cabeceira, Dunga fechou sua lista de 23 representantes do país na África do Sul. No dicionário do comandante, destaque para outros dois verbetes: Patriotismo e comprometimento.
Dunga foi coerente antes e durante a Copa? Sem dúvida.
Convocou somente jogadores que já havia testado. Só atletas que confiaram nele e em quem confiava. Só jogadores que mostraram comprometimento com a causa da seleção e que mostraram orgulho em servi-la.
Estava errado? Talvez não. Na cartilha de alguém que escolhe pessoas, são critérios aceitáveis. Mas podem ser os únicos?
Responda você:
Em nome da coerência, Dunga poderia deixar fora jogadores que “voavam” em seus clubes, levando outros que nem titulares eram em campeonatos estaduais?
Em nome do “conjunto de idéias formando um todo lógico”, poderia levar um goleiro com a justificativa de que ele brigou com o clube para servir à seleção? Não seria mais justo simplesmente convocar o terceiro melhor goleiro brasileiro por mérito em campo?
Em nome do patriotismo e comprometimento, era mesmo certo não levar jogadores jovens só porque despontaram a poucos meses da Copa?
É oportunismo dizer isso agora?
Responda você mesmo:
Quando o Brasil perdia para a Holanda com um jogador a menos e precisava de um algo a mais, um talento diferenciado, você lançaria no jogo…. Kleberson??! Pois é. Dunga também não. E Josué, que tal?! Nem você, nem ele, nem ninguém…
O técnico não mexeu no time (exceto com Nilmar) porque não tinha mesmo quem botar para, ao menos, tentar resolver. E na hora do aperto, patriotismo e comprometimento não resolvem.
A pergunta é: Se Kleberson, Josué, Julio Baptista e alguns outros foram convocados sem estar em boa forma, ou mesmo sem representar o melhor que o Brasil tinha, como esperar que o próprio treinador confiasse neles na hora H?! Dunga é coerente até a raiz dos cabelos; mas não é maluco. Jogou bola. Não foi lá dos mais talentosos, mas lá no fundo daquela cabeça um pouco rígida demais, sabe quem tem talento e quem não tem.
Agora faça a você mesmo mais uma pergunta: Se Dunga tivesse no banco Paulo Henrique Ganso e/ou Ronaldinho Gaúcho, teria lançado um deles (ou os dois) aos 25, 30 do segundo tempo? Eu duvido que não. Mas duvido com muita força. E você?
Moral da história: Dunga apostou nas suas convicções. Deixou de fora quem parecia lógico convocar. E botou todas as fichas nisso, em nome da tal coerência. O time não encantava, mas mal ou bem estava dando pro gasto. Se fosse até o fim e vencesse, provaria sua tese.
Mas perdeu...
E pior: Não perdeu por falta de empenho de seus jogadores, o tal comprometimento. Perdeu porque alguns falharam, porque foi superado pelo adversário, e não tinha peças com talento capazes de reverter o quadro.
Poderia até não reverter, mesmo com outros. Mas pelo menos teria opções para tentar. A pedra foi cantada muitas vezes antes da Copa: “Se o Brasil precisar mudar uma partida, vai mudar com quem??!”
A resposta, dada agora há pouco no estádio Nelson Mandela, em Port Elizabeth, aponta para uma verdade: O Brasil não trouxe seus melhores jogadores. Poderia ter sido campeão, não seria absurdo. Mas com os melhores, seria mais fácil.
Parece óbvio. Mas é apenas… Coerente.
Texto do José Ilan que você encontra aqui