Lendas urbanas são histórias incomuns, engraçadas ou chocantes que são transmitidas de uma pessoa a outra como sendo absolutamente verdadeiras. O mais notável é que muitas pessoas acreditam e passam adiante. O que há nelas que faz com que as pessoas queiram espalhá-las?
Uma boa parte se deve aos aspectos específicos da história. Como vimos na seção anterior, muitas lendas urbanas tratam de crimes perversos, alimentos contaminados ou várias ocorrências que poderiam afetar muitas pessoas se fossem verdadeiras. Se ouvimos uma história dessas e acreditamos nela, nos sentimos obrigados a avisar os amigos e a família.
Uma pessoa pode transmitir informações que não são de advertência simplesmente porque acha engraçado ou interessante. Quando ouvimos a história pela primeira vez, ficamos espantados, imaginando como uma coisa dessas pode ter acontecido. Quando uma lenda é bem contada, ela prenderá sua atenção. Faz parte da natureza humana querer espalhar este sentimento aos outros e ser aquele a quem todos esperam para saber o desfecho da história. Mesmo se soubermos que se trata de um boato, ainda podemos ficar tentados a personalizar o conto ao dizermos que aconteceu a um amigo. Na verdade, as pessoas gostam mesmo é de contar uma boa história.
Mas, porque então o público leva isto tão a sério ao invés de reconhecer que se trata de um boato ou um rumor infundado? Na maioria dos casos, depende de como a história é contada. Se uma amiga (vamos chamá-la Jane) lhe conta uma lenda urbana, há chances de que aquilo tenha acontecido com um amigo de alguém que ela conheça. Você acha que Jane está falando a verdade e que ela acreditou na pessoa que lhe contou. Isto se parece mais com informação de segunda mão e você irá tratá-la como tal. Por que Jane iria mentir?
É claro, Jane não está mentindo nem o seu amigo, simplesmente, ambos acreditam no que foi contado. No entanto, eles provavelmente estão abreviando e você talvez fará o mesmo ao passá-la adiante. Assim, o evento ocorreu com o amigo de um dos amigos dos seus amigos, mas para simplificar você provavelmente dirá que aconteceu ao amigo de Jane ou até à própria Jane. Desta forma, cada pessoa que transmite o caso deixa a impressão de que ele está somente duas pessoas adiante dos personagens da história, quando na realidade, há, provavelmente, centenas de pessoas entre eles.
A origem das lendas urbanas pode ser atribuída a uma variedade de fatores. No caso das tatuagens revestidas de LSD, a provável origem foi uma interpretação errônea de uma ocorrência real. Enquanto há poucas evidências de adesivos de LSD sendo distribuídos às crianças, é uma prática comum dos traficantes venderem ácido em pequenos pedaços de mata-borrão que eles marcam com um personagem de desenho animado como sua marca registrada. Podemos apostar que alguém leu sobre estas "pastilhas de ácido" ou viu uma foto delas e pensou que fossem tatuagens para crianças.
Não está claro quem começou a história do roubo de órgãos de Las Vegas. Provavelmente, foi alguém pregando uma peça num amigo. Mas sabemos de algo que pode explicar como esta lenda se espalhou. O escritor do show Law and Order (Lei e Ordem) ouviu essa história em algum lugar e a transformou em um episódio. O programa é bem conhecido por contos "arrancadas das manchetes", então muitos espectadores podem ter tido a impressão de que o episódio descreveu um fato real.
Geralmente, a cultura popular e as lendas urbanas andam juntas. Antigas lendas acabam como tramas de filmes e elementos fictícios do cinema que circulam como contos da vida real. No último caso, alguém pode dar início a uma lenda porque é mais emocionante dizer que um evento realmente aconteceu ao invés de contar que passou no cinema. Ou talvez a pessoa simplesmente esqueceu onde de fato ouviu a história.
Muitas pessoas acreditam que uma lenda urbana deve ser verdadeira porque foi assunto de reportagem de jornal ou de outra "fonte oficial". A insistência das histórias de Halloween (lâminas em maçãs, agulhas em balas) é um exemplo disso. Não existem casos documentados de contaminação de balas de Halloween, mas a mídia e a polícia emitem advertências ano após ano. Jornalistas, policiais e outras autoridades às vezes erram e a maioria deles admite isso abertamente. Não há fonte de informações infalível.
Qualquer pessoa pode ser enganada ao acreditar numa lenda urbana, pois poucas pessoas desconfiam de tudo e de todos. A maioria de nós não investiga nada do que ouve; devido à eficiência do informante, aceitamos quase tudo como sendo verdadeiras. Sob o ponto de vista psicológico, necessitamos confiar nas pessoas pela sensação de conforto que isso nos traz.
Em muitos casos, esta confiança é tão grande que a pessoa irá insistir que a lenda realmente aconteceu mesmo quando confrontada com evidências do contrário. Os sites de lendas urbanas tais como Snopes.com (em inglês) recebem muitos e-mails de leitores que se sentem ultrajados pois o site chama o seu amigo de mentiroso.
Uma outra razão de as histórias serem passadas adiante é porque os seus detalhes as fazem parecer verdadeiras. Você deve ter ouvido relatos sobre crianças que foram raptadas de um lugar específico da loja de departamentos ou sobre as várias iniciações das gangues (adiante falaremos mais sobre isso) que ocorreram em um determinado lugar da sua cidade. Uma vez que o contexto é familiar e o lugar é verdadeiro, a história parece real. Este nível de detalhamento também influi nos seus próprios medos e ansiedades sobre o que poderia lhe acontecer nos lugares que visita regularmente.
As lendas urbanas são difundidas em culturas por todo o mundo. Nas diferentes regiões, os elementos já conhecidos como terror, humor e estado de alerta aparecem mais uma vez apesar dos assuntos específicos variarem. Na próxima seção, iremos explorar o significado das lendas urbanas para encontrarmos o que estes insistentes assuntos podem nos dizer sobre a sociedade em que vivemos.
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