Wikimedia Commons Estátua de dragão na Eslovênia |
Um dos primeiros mitos criados pela humanidade, o dragão está presente na cultura de vários povos como uma criatura alada parecida com uma serpente ou com um lagarto de grandes proporções, que solta fogo pela boca. Em algumas culturas, como a chinesa e a japonesa, o dragão é uma divindade com poderes mágicos, fonte de sabedoria responsável pela criação do céu e da terra. Na mitologia chinesa, o dragão é um dos quatro animais sagrados convocados pelo deus criador Pan Ku para participar da criação do mundo. Ele é um misto de vários animais místicos: os olhos são de tigre, o corpo, de serpente, as patas, de águia, os chifres, de veado, as orelhas, de boi e os bigodes, de carpa. O dragão representa a energia do fogo, que destrói, mas permite o nascimento do novo (como a fênix).
Em outras culturas, principalmente a ocidental, o dragão é visto como a encarnação do mal, um ser demoníaco que traz o caos para humanidade, uma fonte de destruição. Na mitologia persa, por exemplo, os dragões destroem florestas, roubam o gado e guardam tesouros. Na mitologia mesopotâmica, essas criaturas cometiam grandes crimes e eram punidas pelos deuses. Na mitologia grega, os dragões eram devoradores de homens e adversários de heróis como Hércules, Perseu e Cadmo.
Divulgação O dragão é visto normalmente como uma criatura do mal, mas em 'Eragon', a dracena Saphira ajuda o personagem título a lutar contra o tirano Galbatorix |
A imagem de dragão mais conhecida é a retratada nas lendas europeias (germânica, escandinava e celta) e na cultura cristã. É a serpente alada, de pernas, que solta fogo pelas ventas e que traz o caos e a destruição. A criatura é descrita em vários livros do Velho Testamento (Gênesis, Isaías, Ezequiel e Jó). A partir daí ela povoa o imaginário de vários povos. Na mitologia nórdica, o dragão é um ser maligno, representado pelo anão Fafnir, cuja ganância o transforma na besta-fera guardiã do anel do poder. Após ser morto por Siegfried, o dragão Fafnir tem parte do coração devorado por seu algoz, o que dá a Siegfried o poder de falar com os animais.
Essa característica mágica do dragão o levou para as histórias de ficção. No filme "Coração de Dragão" (1996), o filho de um rei tirano é gravemente ferido numa batalha. Sua mãe invoca os poderes mágicos de um dragão, que divide seu coração com o príncipe desde que ele prometa ser bom e justo. O príncipe acaba se tornando mais tirano que o pai, e um jovem cavaleiro, acreditando que a ruindade do novo rei se deve ao coração do dragão, sai matando todas as "feras". Quando falta apenas um dragão, o cavaleiro acaba descobrindo que essas criaturas não eram tão más, afinal.
No filme "Reino de Fogo", porém, os dragões são retratados como criaturas destruidoras da humanidade num futuro apocalíptico. Na literatura, a criatura aparece em várias histórias fantásticas - de contos infantis a romances adultos. Em "O Senhor dos Anéis", de J.R. Tolkien, o dragão é responsável pela morte/transformação do mago Gandalf, de mago cinza para mago branco. Ele é retratado como um ser das profundezas, de sombra e fogo, chamado Balrog. Tolkien também usa a criatura como um dos personagens centrais de "O Hobbit" - Smaug, que arrasa vilas e povoados. Na série "Harry Potter", os dragões aparecem em várias histórias. Ora como salvadores, ora como bichos de estimação, ora como desafio para bruxos em um torneio de magia. Em "As Crônicas de Nárnia", de C.S. Lewis, os dragões são guardiões de tesouros, e em Eragon, de Christopher Paolini, um dos dois últimos remanescentes da espécie ajuda o herói Eragon a lutar contra as forças opressoras do rei Galbatorix.
Embora o brasileiro fique fascinado com as histórias de dragões, o único contato mais próximo que ele tem com a criatura vem dos bestiários da Igreja Católica, escritos na Idade Média, em que São Jorge representa a vitória da fé sobre a idolatria ao demônio (o dragão). De acordo com esses escritos, o santo patrono de Portugal, Moscou, Inglaterra, Catalunha e Lituânia, teria sido o único guerreiro a conseguir matar o dragão que aterrorizava uma cidade líbia. Conta-se que nesta cidade existia um dragão enorme, cuja pele não podia ser perfurada por lança alguma e cujo hálito era venenoso. Ele ameaçava matar a todos, caso não lhe fossem entregues diariamente as donzelas da cidade. Jorge (que ainda não era santo) apareceu por lá quando restava apenas uma donzela, Sabra, a filha do rei, que prometeu-a em casamento para quem derrotasse a fera.
Jorge impediu que a princesa fosse entregue ao dragão e partiu rumo à caverna da fera. Quando viu o jovem guerreiro se aproximando, o dragão emitiu um som parecido com o de trovões, mas Jorge, sem medo, partiu para cima dele e enterrou-lhe a lança sob a asa - o único local sem as grossas escamas -, acertando o coração da fera e matando-a. Jorge acabou fugindo com Sabra para casar-se com ela na Inglaterra, já que o rei, não querendo que ela se casasse com um cristão, tentou matá-lo.
A luta de são Jorge contra o dragão varia nos locais em que a história do santo é conhecida. Mas na cultura popular brasileira, é para São Jorge que as pessoas pedem ajuda quando as coisas estão feias.
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