terça-feira, 3 de maio de 2011

Vodu africano

O vodu se originou nos reinos africanos de Fon e Congo, talvez há seis mil anos. A palavra "vodu" vem do idioma fon, no qual ela significa "sagrado", "espírito", "divindade". Outras palavras usadas no vodu hoje em dia também vêm dos idiomas fon e congo. Por exemplo, uma sacerdotisa vodu muitas vezes porta a designação mambo ou manbo. Trata-se da combinação da palavra fon para "mãe" ou "amuleto mágico" com a palavra congo para "cura".

Map of Africa: Benin, Ghana, Togo
O reino fon se localizava na região sul do atual Benin, definida por alguns antropólogos como "o berço do vodu". As pessoas também praticam o vodu no Togo, Gana e outros países do noroeste africano. Aproximadamente 30 milhões de pessoas no Togo, Gana e Benin praticam o vodu hoje [fonte: National Public Radio: Radio Expeditions (em inglês)]. O vodu também é a religião oficial de Benin, onde 60% dos habitantes são seguidores [fonte: BBC (em inglês)]. 

Já que o vodu representa primordialmente uma tradição oral, os nomes dos deuses, bem como as características dos principais rituais, podem mudar de região para região ou geração para geração. No entanto, o vodu africano ostenta diversas qualidades consistentes, não importa onde seja praticado. Além da crença em múltiplos deuses e em possessão espiritual, elas incluem:
  • veneração de ancestrais;
  • rituais ou objetos usados para conferir proteção mágica;
  • sacrifícios de animais para demonstrar respeito por um deus, conquistar-lhe os favores ou agradecer;
  • o uso de fetiches, ou objetos cujo propósito é conter a essência do poder de determinados espíritos;
  • danças cerimoniais, que muitas vezes envolvem trajes e máscaras elaborado;
  • música e instrumentos cerimoniais, incluindo especialmente tambores;
  • adivinhação profética pela interpretação de atividades físicas, como jogos de sementes ou búzios, ou a seleção de pedras de determinadas cores dispostas em torno de uma árvore;
  • a associação de cores, comidas, plantas e outros itens a loas específicos, e o uso desses itens para prestar tributo ao loa.
Muitos desses traços, especialmente o culto aos ancestrais, o politeísmo e a importância da música e dança são importantes também em outras religiões africanas. Dessa forma, na prática o vodu se assemelha bastante a diversas outras religiões africanas tradicionais. Muitos dos cultos tem um aspecto de celebração, além do serviço religioso, incorporando música bem ritmada, dança e cânticos. Muitos rituais aproveitam ambientes naturais, como rios, montanhas e árvores. Por meio da decoração e consagração, objetos de uso cotidiano como panelas, garrafas ou porções de animais abatidos se tornam objetos sagrados, de uso ritual.


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Foto cortesia Herbert Hoover Presidential Library and Museum
Este altar vodu incorpora bonecas, garrafas e objetos comuns
Em certas partes da África, as pessoas que desejam se tornar líderes espirituais na comunidade vodu podem se inscrever em centros religiosos, semelhantes a conventos ou mosteiros. Em algumas comunidades, os iniciados morrem simbolicamente, passando três dias e noites em completo isolamento, antes de voltar ao mundo exterior. Os iniciados aprendem os rituais, cores, alimentos e objetos associados às diferentes divindades, bem como maneiras de se comunicar com os loas. Os espíritos têm diferentes personalidades e diferentes requerimentos quanto aos seus seguidores, mais ou menos como os deuses na mitologia grega e romana. 



Algumas pessoas associam o vodu ao mal, mas muitos de seus rituais, até mesmo aqueles que incluem o sacrifício de animais, pretendem passar a idéia de respeito e paz. Os líderes religiosos do culto se tornam líderes comunitários, oferecendo orientação e resolvendo disputas. Os sacerdotes, sacerdotisas e outros praticantes dedicam seu trabalho a ajudar os outros, e tratar de seus problemas. Os líderes também freqüentemente oferecem cuidados médicos, na forma de medicina tradicional. Maldições, feitiçaria e encantos de objetivo malévolo se enquadram em uma categoria conhecida como bo. No entanto, a maior parte dos antropólogos concordam em que os líderes do vodu têm conhecimentos sobre o bo, que constitui uma disciplina separada, baseado na crença de que é preciso compreender para combater a prática. Feiticeiros conhecidos como botono, e não sacerdotes ou sacerdotisas de vodu, são supostamente os conhecedores dos encantamentos malévolos mais poderosos. Em alguns casos, porém, há pessoas que são sacerdotes e botonos ao mesmo tempo, dependendo da situação. 

Essa forma africana de vodu é precursora da praticada no Haiti e em outras partes do Hemisfério Ocidental. As regiões da África em que o vodu prosperou também são regiões de origem de forte tráfico de escravos. A escravidão levou o vodu à América. Na próxima página, veremos as mudanças que aconteceram com o vodu do lado oposto do Atlântico.


O Bebê Poderoso



Em muitas comunidades vodu, as pessoas consideram os gêmeos como sagrados. De acordo com a tradição, cada gêmeo porta metade da alma de seu par. Caso um gêmeo morra, o outro muitas vezes carrega com ele um boneco duplo, que porta o espírito do irmão perdido. No vodu haitiano, os gêmeos têm poderes especiais que podem ser perigosos, e uma cerimônia dedicada ao loa Dossou impede que eles causem o mal. No Benin, os gêmeos também simbolizam fertilidade.

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