Existe uma enorme diferença entre prazer e alegria. Quando conseguimos fazer uma distinção clara, movimentamo-nos muito mais rapidamente para aquilo que pretendemos atingir na vida e com muito mais energia. Mihaly Csikszentmihalyi descreve muito bem esta diferença no seu livro, Flow – o estado psicológico que entramos quando a noção de tempo desaparece e nos sentimos completamente emersos naquilo que estamos a fazer. Csikszentmihalyi distingue aquilo que fazemos por prazer (sexo, comer, beber, descansar, etc.) daquilo que fazemos por alegria e gozo.
A Alegria e gozo, são mais profundos. A alegria e gozo, envolvem sempre o uso de uma habilidade ou capacidade, e igualmente a noção de desafio. Certamente o objectivo de subir ao Evereste, tem como fim último a alegria e contentamento retirada do facto de ter conseguido ultrapassar o desafio árduo, e assim ter como recompensa todas as sensações vividas. Desta forma, velejar, jardinar, pintar, jogar golfe, cozinhar, cantar, ou outra qualquer atividade, envolvem habilidades, tal como constituem um desafio que leva à alegria, contentamento e gozo. Retirar da vida o que ela tem de melhor, promover as forças e virtudes de cada um de nós é uma perspetiva abraçada pela psicologia positiva.
Esta é uma abordagem que expresso na grande maioria dos meus artigos, pois olho para a vida de uma forma prospetiva, virada para o futuro e para os objetivos que as pessoas pretendem alcançar através daquilo que melhor nelas existe. A alegria, é algo inato a todos nós, vimos ao mundo com um código genético preparado para o sentimento de esplendor, o nosso corpo é um templo da felicidade, se assim olharmos para ele.
FACTOR PROMOTOR
No entanto para que o gozo na vida possa ser experienciado, é necessário dominar um conjunto de habilidades. O gozo emerge da mais valia expressada pela pessoa, está associado a algo que depende dela e da aprendizagem e aprimoramento que fez. Por outro lado, dedicar-me ao ócio, ao visionamento de filmes, ao sabor de uma bela refeição, de um cigarro, ou dos videojogos, não será necessário grande investimento psicológico ou habilidades para tirar prazer disso. As pessoas que estão conscientes disso, começam a retirar mais gozo e alegria das suas vidas. Elas conseguem alcançar o estado psicológico de preenchimento total, de felicidade e emersão na atividade, conhecido como, “Fluxo”. Melhorar as habilidades e propor-se a desafios para retirar alegria e gozo dessas mesmas habilidade é, um factor promotor para ter uma vida muito mais agradável e realizada.
Não quero transmitir a ideia que não deverá dedicar-se às outras atividades naturalmente prazerosas. Este tipo de prazer é conhecido no mundo da psicologia como adaptação hedónico (adaptação natural a acontecimentos considerados positivos e prazerosos). Este tipo de prazer tem o seu lugar e é importante para o nosso bem-estar, deveremos usufruir dele. É no entanto necessário perceber que este tipo de prazer que nos é natural, é regulado pela lei dos retornos decrescentes. Este tipo de felicidade raramente dura mais que um bom par de horas, atinge um pico e depois desce. Desta forma deveremos tentar coabitar com os dois tipos numa relação saudável e confortável.
Poderemos encaixar o estado psicológico de fluxo, no conceito de capital psicológico. Este conceito, transmite a ideia de que deveremos investir nas habilidades, competências, virtude e valores que possuímos e associar-lhes um conjunto de sensações de bem-estar e realização pessoal. Deveremos aumentar o nosso capital psicológico, com o objectivo de podermos retirar gozo e alegria desse investimento. Se eu não tiver nenhum tipo de capital financeiro, eu não poderei comprar nada, não poderei gastar nada. Para gastar é necessário, ganhar, para ganhar é necessário trabalhar. O mesmo se aplica ao capital psicológico e ao retorno desse investimento.
A reter: Quanto mais investir, maior será a possibilidade de retorno. Aqui o retorno será em alegria, gozo, contentamento, gratificação e realização pessoal.
Vejamos o estado que pode ser alcançado através da actividade física, relatado por uma bailarina:
“Assim que eu inicio a atividade, eu começo logo a ficar emersa, sinto alegria, sinto-me a movimentar-me por ali…tenho uma forte sensação física de bem-estar…fico muito ativa, muito febril, sinto-me muito excitada quando as coisas me correm bem. Movimento-me e tento exprimir-me através desses movimentos. É isso mesmo, é uma forma de linguagem corporal, um tipo de comunicação muito especial entre mim e o meu corpo, é uma via para o gozo. Quando me sinto em pleno comigo mesma, sinto-me ligada à música e às pessoas que estão a assistir.”
Artistas, músicos, desportistas, cirurgiões, cozinheiros, seja que profissão for ou atividade de envolvência, todos descrevem componentes de gratificação similares. Apresento algumas:
- A tarefa é desafiante e requer habilidades e competências
- Concentração
- Existem metas concretas e clarificadas
- Retiram feedback imediato
- Sentem-se emersos, e envolvidos sem esforço
- Existe um senso de controlo
- A noção do eu, desaparece
- O tempo pára
ACRESCENTAR VALOR
Quando estamos envolvidos em atividades de puro prazer, provavelmente estamos apenas a consumir. O cheiro do perfume, a sensualidade de uma pedra preciosa, o sabor de um bom vinho, são sem dúvida momentos de deleite, mas eles não nos acrescentam qualquer valor para o futuro. Não são investimentos, nada está a ser acumulado. Em contraste, quando nos envolvemos (no estado de fluxo), posso admitir com alguma certeza que estaremos a investir, a construir capital psicológico para o futuro. Talvez o estado de fluxo seja um marco no crescimento psicológico. Imersão, envolvimento, perda de consciência, e paragem do tempo, pode muito bem ser a evolução a dizer-nos que estamos a acumular recursos psicológicos para o futuro.
Nesta analogia, o prazer marca a realização biológica da saciação (ficar saciado), e a alegria, gozo e gratificação marca a realização do crescimento psicológico.
ALERTA
O que seria de você se toda a sua vida fosse feita de prazeres fáceis, nunca apelando às suas forças, e nunca se propusesse a desafios? Provavelmente este tipo de vida é desencadeador de estados depressivos. Fique alerta de si mesmo, procure um equilíbrio entre estas duas formas de retirar boas sensações da vida – a prazerosa, não apelando ao esforço e dedicação, crescimento e desenvolvimento e a de – gozo, alegria e gratificação, que apela à construção de uma realização pessoal onde emerge a alegria e gratificação.
Fique alerta dos atalhos para a felicidade que a nossa sociedade nos “vende” constantemente: Televisão em excesso, drogas, compras, sexo, fãs desportivos, chocolate, videojogos, entre outros. Utilize e usufrua o suficiente até ao ponto de não tornar isso no principal motivador na sua vida. Aprenda a colocar alegria nas coisas que gosta de fazer e que dependem de si para o aumento das sensações agradáveis que retira da prática dessa atividade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário