terça-feira, 1 de março de 2011

Recrutamento dos membros

Você deve ter a imagem de um "recruta", ou seja, um membro novato de uma seita, como um jovem problemático, talvez "doente mental", facilmente explorado por seitistas sem ética. No entanto, estudos mostram que pessoas que se juntam a seitas possuem uma incidência apenas um pouco maior de problemas psiquiátricos do que a população em geral. 

Membros de seitas são de todos os estilos de vida, faixas etárias e tipos de personalidade. No entanto, uma característica comum entre quase todos é o estresse elevado. Pesquisas indicam que a maioria das pessoas que acabam entrando para uma seita foram pegos durante um período de grande estresse. Pode ser o estresse associado com a adolescência, sair de casa pela primeira vez, uma separação ruim, perda de emprego ou morte de uma pessoa amada. Pessoas nestas condições podem estar mais suscetíveis quando uma pessoa ou um grupo diz ter as respostas para todos os seus problemas. Michael Langone, Ph.D., um psicólogo especializado em seitas, também define alguns traços psicológicos que podem fazer de uma pessoa um alvo fácil, entre eles:
  • dependência - um forte desejo de fazer parte de algo, resultado de uma baixa confiança em si mesmo;
  • falta de autoconfiança - uma dificuldade para dizer não ou questionar autoridade;
  • ingenuidade - uma tendência em acreditar no que dizem sem ao menos pensar no assunto;
  • baixa tolerância a incertezas - uma necessidade de ter as respostas para todas as perguntas imediatamente, tudo preto no branco;
  • desilusão com a situação atual - um sentimento de marginalidade dentro da própria cultura e um desejo de ver essa cultura mudar;
  • idealismo ingênuo - uma crença cega de que todos são bondosos;
  • desejo por um sentido espiritual - uma necessidade de acreditar que a vida tem um objetivo maior.
Os recrutadores, pessoas designadas para conseguir recrutas, passeiam por lugares onde é provável que encontrem pessoas passando por um período de muito estresse ou que possuam os traços de personalidade descritos acima, ou seja, passeiam por toda parte. Alguns lugares bem produtivos podem ser campus de universidade, encontros religiosos, grupos de apoio e de auto-ajuda, seminários relacionados à espiritualidade, mudança social e agências de emprego. Em um artigo de 1990, na San Francisco Examiner, um ex-membro de uma seita, que não quis se identificar, comentou sobre como é fácil ser pego por eles: "as pessoas não percebem como são suscetíveis. Os sorrisos estampados naqueles rostos levam pessoas ingênuas e receptivas a acreditarem no que dizem". 

Ela foi abordada no campus da Universidade da Califórnia, em San Diego, quando tinha 19 anos. Seu pais fizeram de tudo para "desprogramá-la", oito anos depois (leia mais sobre desprogramação na seção "Saindo"). 

Os principais métodos para a escolha dos membros gira em torno da decepção e da manipulação. Prováveis membros não ficam sabendo da verdadeira natureza ou intenções do grupo. Em vez disso, os recrutadores retratam o grupo como sendo algo para o público em geral, sem pressão e benigno. Podem dizer, durante um encontro na igreja, que o grupo se reúne uma vez por semana para discutir idéias a fim de levantar fundos para um novo abrigo de sem-tetos. 



São capazes de convidar um aluno de colegial para conversar sobre como o serviço público pode melhorar o sistema de inscrição para as universidades. Identificam as necessidades ou desejos específicos de seus alvos e jogam com eles. Aprendem a detectar os medos e vulnerabilidades das pessoas e retratam a seita conforme estes dados. Por exemplo, se uma jovem acabou de passar por um rompimento com o namorado e está se sentindo deprimida e sozinha, um membro da seita pode dizer a ela que seu grupo ajuda pessoas a superar problemas interpessoais e a reconstruir a confiança para dar a volta por cima. Se um homem acabou de perder sua esposa em um acidente de carro e não consegue suportar o fato de não ter dito adeus, um recrutador pode dizer que seu grupo ajuda pessoas a alcançar a paz depois de uma morte repentina. 

Parece estranho que alguém aceite estes tipos de convites, mas existem alguns fatores que fazem a situação parecer mais agradável. Primeiro, o recrutador pode ser alguém que a "vítima" conheça. Pode estar no dormitório daquela garota da faculdade ou no grupo de apoio a sobreviventes daquele homem. Quando alguém está triste, solitário ou desesperado, pode confiar facilmente em alguém que diz que sabe o caminho de volta para a felicidade. 
Além disso, seitas normalmente isolam os novatos para que não tenham uma "tomada de consciência". Podem realizar reuniões ou serviços em horários que normalmente seriam para passar com a família e com os amigos, podem fazer "retiros" que insiram o novato em uma mensagem de grupo por vários dias seguidos e podem pedir que eles não discutam sobre o grupo com outros até que saibam mais a respeito, para que não iludam as pessoas ou contem apenas uma parte da história. 

Este tipo de isolamento estreita drasticamente a estrutura de reação de uma pessoa por um período de tempo, até o ponto em que as únicas pessoas com quem eles realmente se comunicam sejam os membros do grupo para o qual estão sendo convidados. Por esta razão, suas dúvidas a respeito do grupo nunca são reforçadas e acabam se transformando em insegurança. Ao olhar para seus sorrisos, para as pessoas amáveis que encontraram paz e felicidade os seguindo, até parece que este é o caminho certo. 

Uma vez que a pessoa participa de uma reunião, serviço ou palestra, é convidada para muitas outras. É recebida com muita alegria na família da seita e convidada a se comprometer com o grupo. Já, a partir do primeiro dia, o processo é de manipulação e decepção. Para os que ficam, o processo de aceitação culmina na submissão de sua própria personalidade para a "vontade do grupo". Na próxima seção, vamos conhecer o que a doutrinação exige. 


A pessoa que amo faz parte de uma seita?
Se você suspeita que alguém que você ama faz parte de uma seita destrutiva, a primeira coisa a fazer é permanecer calmo e ser racional. Descarte temporariamente tudo a respeito de "seita" e pergunte a si mesmo por que está preocupado e que comportamentos estão deixando você preocupado. Anote-os. Estes comportamentos são perigosos? Destrutivos? Caso sejam, o próximo passo é tentar descobrir se podem ser resultado do envolvimento com o grupo em questão. Não existem checklists perfeitos e comprovados cientificamente para envolvimento em uma seita totalista, mas aqui estão algumas fontes que podem ajudar: Caso a pesquisa o leve a crer que o comportamento desta pessoa pode de fato ser atribuído ao envolvimento em uma seita destrutiva, seu próximo passo continua sendo o mesmo: permaneça calmo e seja racional. Converse com ela sobre suas preocupações e ouça suas respostas. Caso seus medos se confirmem, consulte um psicólogo ou orientação específica para descobrir como ajudá-la sem causar danos futuros. Existem várias organizações dedicadas em instruir e ajudar famílias preocupadas. Dê uma olhada nos seguintes links para mais informações:

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