domingo, 6 de março de 2011

Saindo de uma seita

As pessoas podem deixar uma seita por várias razões. Alguns ficam desiludidos e simplesmente vão embora. Foi o que aconteceu com os Davidianos. O líder previu o fim do mundo em uma data específica. Quando o dia chegou e nada aconteceu, alguns membros ficaram desapontados. O líder previu uma outra data e novamente nada aconteceu. Quando o líder morreu, sua esposa assumiu, previu uma nova série de datas que novamente falharam e com isso sobraram poucas pessoas no grupo. 

Para algumas pessoas não é difícil deixar uma seita. São menos suscetíveis a técnicas de controle mental e podem ter mantido uma quantidade suficiente de sentido do 'eu' para tomarem a decisão de sair. Mas para outroas não é tão simples assim. Existem ex-membros que dizem terem passado anos tentando tomar coragem para sair. Uma pessoa verdadeiramente convertida é totalmente dependente da seita em todos os aspectos de sua vida e de sua consciência. 

Para um membro totalmente doutrinado, sair significa ficar sozinho e começar tudo de novo. Seu sentido do 'eu' foi totalmente destruído, a ponto dele nem ao menos saber quem é sem sua "família". 
Ele pode levar anos para se decidir, pois conseguir confiança para sair voluntariamente requer uma enorme força de vontade e isso não vem facilmente. Pode ser resultado de um novo contato com o mundo externo, como conversar com seus pais pela primeira vez depois de muito tempo. Isso pode acontecer quando se tem uma crise psicológica e acredita-se ser inútil demais para atender às expectativas do grupo, então o membro sai para poupar sua "família" de seu convívio. Pode ser, também, decorrente de uma experiência traumática que o leva à consciência, como testemunhar o abuso sexual de uma criança ou um assassinato dentro da seita. 

No entanto, tomar a decisão de sair é apenas uma parte do processo. Supostamente, as portas devem estar abertas para que ele possa sair. Algumas seitas destrutivas deixam as pessoas irem embora. Normalmente, pressionam bastante o membro para que ele fique, mas no final ele pode escolher ir embora sem ter que pular o muro na calada da noite ou escapar de guardas armados. Em casos menos sérios, um membro que abandona o grupo pode ser "renegado", proibido de qualquer contato com pessoas que fizeram parte de sua "família" por meses, anos ou décadas, mas não sofre qualquer dano físico ao sair. 

Nos casos mais sérios, uma seita pode ir ao extremo para manter controle sobre seus membros e até matá-los caso tentem sair. Quando 16 membros do Templo do Povo em Jonestown, Guiana, decidiram deixar a seita, em 1978, depois de uma visita de um grupo de governantes americanos, vários membros armados os seguiram até o aeroporto e começaram a atirar. Onze pessoas ficaram feridas e um congressista americano, três repórteres e um membro, que estava tentando deixar a seita, foram mortos. O medo das conseqüências deste incidente foi o que fez o líder Jim Jones provocar o assassinato/ suicídio coletivo de 900 membros de sua seita.



Embora seja preferível uma saída pacífica e voluntária, normalmente não é assim que acontece. Existem aqueles que não querem sair de jeito nenhum, mas são arrancados de suas camas às três da manhã e arrastados de volta para o mundo externo. Este é o primeiro estágio do que conhecemos como "desprogramação", um método extremo que consiste em tirar alguém de uma seita contra sua vontade. 

Não é fácil fazer uma pessoa deixar um culto destrutivo. A conversa é sempre o primeiro passo. No entanto, às vezes ele é muito bem doutrinado para ouvir qualquer coisa que um estranho tenha a dizer e outras vezes não existe oportunidade para conversar. Todos os laços com o mundo externo podem ter sido cortados. Familiares que temem por alguém que esteja profundamente envolvido em uma seita totalista precisam encontrar uma outra alternativa caso uma simples conversa não funcione. Neste ponto, existem duas alternativas: desprogramação ou orientação específica. 

Desprogramação é a abordagem mais drástica porque normalmente envolve um seqüestro inicial para tirar a pessoa da seita. Por esta razão, a desprogramação é um serviço muito caro e pode custar milhares de dólares. Após a retirada forçada, a desprogramação precisa de horas e horas de "interrogatório" intenso, em que uma equipe de desprogramadores seguram o indivíduo contra sua vontade e usam técnicas psicológicas éticas para tentar compensar as técnicas psicológicas não éticas usadas pela seita. O objetivo é fazer o membro da seita pensar por si próprio e reavaliar sua situação. Os métodos de interrogatório podem incluir:
  • ensinar a ele técnicas de controle mental e ajudá-lo a reconhecer estes métodos em sua própria experiência na seita;
  • fazer perguntas que o encorajem a pensar de forma crítica, independente, ajudando-o a reconhecer este tipo de pensamento e fazendo elogios por isso;
  • tentar criar uma conexão emocional com sua vida antiga, apresentando a ele objetos de seu passado, fazendo com que divida suas antigas lembranças com seus familiares.
A desprogramação era comum nos anos 70, mas caiu em desuso por ser muito cara, pois envolve seqüestro e aprisionamento e, além disso, levava a muitos processos judiciais por anos a fio. Hoje, a maioria das famílias procura orientação. A orientação deixa o seqüestro de lado e se concentra em empregar técnicas psicológicas que podem fazer com que o membro de uma seita participe voluntariamente de um interrogatório. Os orientadores ajudam a família a conseguir que o membro se comunique com "estranhos". Os familiares devem ser objetivos, calmos e carinhosos, ou apenas irão reforçar a crença de que estranhos são "maldosos" e perigosos. Caso dê certo e a pessoa concorde em participar deste processo, o próximo passo é o mesmo interrogatório que ocorre na desprogramação, com longas sessões que levam vários dias, mas a pessoa tem liberdade para sair. 
Não existem garantias de que estas técnicas irão funcionar. Algumas fontes dizem que pelo menos um terço das desprogramações falham e não há estatísticas sobre o índice de sucesso no que diz respeito às orientações. No entanto, quando funciona, o membro de uma seita se encontra novamente no mundo externo, com uma nova série de problemas. Pessoas que deixam seitas totalistas podem sofrer de inúmeros problemas psicológicos, como depressão, ansiedade, paranóia, culpa, raiva e medo constante. Podem ter dificuldade para pensar claramente, tomar decisões, analisar situações e executar atividades diárias, como escolher algo para vestir ou ir até o mercadinho da esquina. O psicólogo Langone descreve um comum estado pós-seita chamado por ele de "instável", em que a pessoa avança e retrocede nas maneiras "seita e não-seita de ver o mundo... parada em um estado nebuloso e intermediário de consciência". 

Nem todos sofrem danos psicológicos ao participarem de seitas. Alguns continuam suas vidas após um curto período de adaptação. A maioria, no entanto, sofre conseqüências negativas ao sair do ambiente isolado de uma seita. Podem levar anos para se readaptarem à vida fora de lá. Alguns nunca se recuperam completamente. No entanto, na maioria dos casos, aconselhamento e apoio familiar podem ajudar na recuperação.

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