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No século 12, um poeta da corte francesa resolveu contar a história de um jovem simples chamado Percival que saiu em busca de um objeto misterioso. Mas, Chrétien de Troyes não conseguiu finalizar sua obra intitulada “Percival” ou “Conde do Graal”, o que deu uma dose maior de mistério a um mito que vinha sendo construído oralmente há séculos, em torno principalmente das lendas do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda.
O poema sobre Percival, escrito por Chrétien, continuou a ser contado e ganhou inúmeras versões nas décadas seguintes, com o Graal assumindo novas formas a partir das interpretações feitas por diferentes autores. No começo do século 13, as lendas sobre o Graal ganharam uma nova dimensão literária. Primeiro com a obra “José de Arimatéia”, um poema escrito por Robert de Borron que introduziu elementos cristãos à narrativa.
O poema de Borron fez a ligação da história do cálice na Grã-Bretanha com as origens do cristianismo. Segundo ele, o Graal seria o cálice usado por Cristo na Última Ceia e na primeira Eucaristia e depois teria sido usado para guardar o sangue que saiu de Jesus ao ser crucificado. Arimatéia teria recebido o cálice de Pilatos e o Graal teria chegado até as ilhas britânicas através de um misterioso Rei Pescador.
Já a obra épica “Parzival”, escrita pelo autor alemão Wolfram von Eschenbach, provavelmente entre 1200 e 1220, parece ter surgido como uma retomada do poema inacabado de Chrétien de Troyes. Em 25 mil linhas, distribuídas em 16 livros, Eschenbach conta como o tolo e ingênuo Parzival inicia uma jornada em busca de um objetivo que não vinha sendo alcançado por nenhum homem sábio. Em “Parzival”, Eschenbach mostra o Graal como uma pedra preciosa que havia caído do céu.
No decorrer da Idade Média, as histórias em torno do Santo Graal proliferaram na Europa. A associação dele com mitos cristão e arthurianos levou a introdução de novos heróis como Sir Galahad, um cavaleiro que seria o único a poder olhar diretamente para o Graal. Galahad seria filho de outro lendário cavaleiro do Rei Arthur, Sir Lancelot, e seu amor divino, simbolizado pelo Graal, se contrapõe ao amor humano que seu pai manteve com a rainha Guinevere, num dos mais lendários casos de adultério.
Mas há um fato histórico que alimentou as narrativas sobre o Graal nesse período da Alta Idade Média. O surgimento da Ordem dos Cavaleiros Templários. Assim como havia acontecido com as narrativas do Rei Arthur, a trajetória do Graal fundiu-se com a dos Templários a partir do século 12. Além disso, outros fenômenos culturais, como o culto à cavalaria e o aumento das peregrinações, alimentou a criatividade dos escritores e fez do Graal um dos temas esotéricos mais explorados pela literatura, assim como a alquimia .
Essa movimentação cultural levou a uma proliferação de narrativas sobre o Graal, que na maioria das vezes eram bem distintas umas das outras. Mesmo a história básica sobre o Santo Graal, que serviu de inspiração às várias obras que surgiram, é uma mistura de lendas e versões, com uma fusão de personagens reais e mitológicos de diferentes lugares e períodos históricos.
Boa parte das versões que conhecemos atualmente da lenda do Santo Graal foi elaborada na Idade Média. Criadas principalmente a partir do surgimento da Ordem dos Cavaleiros Templários, algumas delas foram escritas por autores que tinham os Templários como mecenas. Assim, não por coincidência, elas colocam esses cavaleiros como os guardiões do cálice sagrado. Mas, o Graal é um mito que precede ao cristianismo. Ele teria nascido na mitologia celta, durante a Antiguidade. Para os celtas existiria uma vasilha mágica que faria com que o alimento ali preparado desse força e vigor a quem o consumisse (algo como o retratado nos quadrinhos de "Asterix"). Essa lenda transmitida oralmente deve ter servido de base para a versão que surge na Idade Média e que se misturaria a outras narrativas.
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